Produzir energia ao pisar o chão
Três investigadores do Departamento de Engenharia Electromecânica da UBI, desenvolveram um protótipo que recorre a elementos piezoeléctricos para produzir energia
DESENVOLVER uma tecnologia já conhecida e tentar reduzir os custos dos materiais e da sua aplicação é a principal meta de um grupo de investigadores da UBI – Pedro Dinis Gaspar, António Espírito Santo e Bruno Ribeiro, em conjunto com um aluno da área, Filipe Casimiro e com a colaboração do Prof. Luís Carrilho. Para tal, conceberam um protótipo denominado “Pizo”. Este aparelho contém elementos piezoeléctricos ligados entre si. Quando pressionado, através do andamento de uma pessoa, por exemplo, consegue converter essa pressão em energia. Para já, o “Pizo” ganha a forma de um mosaico que poderia ser adaptado ao chão de uma casa ou de um qualquer espaço onde circulam pessoas e conseguir recolher energia, que até aqui “é assumida como irrelevante”, começam por explicar os mentores desta ideia. Pedro Dinis, um dos docentes envolvidos na investigação refere que “esta é uma área que está a ganhar relevância nos últimos tempos”. Até porque, “num momento em que cresce a necessidade de redução de consumos energéticos e também o interesse por energias limpas, todas as fontes alternativas têm de ser exploradas”. Segundo os docentes, a energia ambiente, é também uma dessas áreas promissoras. “O ‘Pizo’ é formado por elementos piezoeléctricos e por isso mesmo, para que seja produzida energia estes elementos têm de sofrer uma deformação, ou seja, fundamentalmente, só produz energia eléctrica quando os mecanismos estiverem a ser pressionados”, descreve Pedro Dinis. O investigador da UBI é o primeiro a deixar bem claro que estes aparelhos, ainda assim, “têm uma capacidade de produção bastante reduzida e apresentam valores de potências muito baixos, comparativamente a outros sistemas, como os painéis fotovoltaicos ou outros”. Contudo, se forem mais generalizados e o custo dos componentes e das tecnologias presentes neles forem reduzidos “cada vez mais serão utilizados”. O que representa “um volume de produção de energia limpa, à escala global, bastante significativo”. Para além disso, a energia gerada por estes dispositivos irá poupar no gasto das tradicionais fontes de energia. Mas este tipo de exercício prático pode ser extrapolado para uma infinidade de aplicações. Veja-se o caso de uma grande estrutura como a ponte Vasco da Gama ou outras, “se estas estruturas estiverem a ser sujeitas a ventos que façam vibrar os pilares, ou a passagem dos veículos sobre o tabuleiro que contenha uma pequena junta deformável, toda essa deformação/vibração que está a ser proporcionada, quer pelo vento, quer pelos veículos pode ser aproveitada e convertida em energia”, afiança o docente da UBI. Energia essa que poderá ser aproveitada para alimentar os painéis de sinalização ou aparelhos electrónicos de medição que funcionem através de placas wireless, por exemplo. Tome-se a título de exemplo, o caso dos sensores remotos interligados através de wireless. “Consegue-se fazer qualquer tipo de monitorização, de qualquer grandeza, à distância, sem necessidade de utilizar cabos, ligações tradicionais e outros entraves e vencer muitas das barreiras que se encontram na localização desses dispositivos. Mesmo que os actuais aparelhos tenham baterias ou pilhas, é sempre necessário mudá-las e como se encontram em locais de difícil acesso isso é mais um entrave. Com esta tecnologia, tudo isso é ultrapassado”, acrescenta Pedro Dinis. “Estamos assim a falar de dispositivos auto sustentáveis em termos de consumo de energia”, acrescenta. O “Pizo” mostra-se assim como mais um protótipo com aplicação de tecnologias já conhecidas. “Escolhemos uma aplicabilidade ligada à domótica, à tecnologia para a habitação, onde os valores de energia produzidos são muito baixos, mas a partir deste momento estamos em condições de desenvolver outros dispositivos e aplicações que tenham este conceito na sua base”, garante.
Eduardo Alves
in Jornal do Fundão (Nº 3278)
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